“Love me for love’s sake”

Faz hoje duzentos anos que nasceu Elizabeth Moulton-Barrett, nos arredores de Durham.
Tinha ela dez anos, o "tirano" pai tratou da ilustração do seu primeiro poema.
Em 1826, publicou ela, autonomamente, "An Essay of Mind and Other Poems".
Já perto dos quarenta, conheceu Robert Browning, e veio a casar com ele à revelia de seu pai. Não se limitaram a fazê-lo em segredo, fugiram mesmo, deram de frosques ou às de Vila Diego.
Cerca de quinze anos depois, morreu nos braços do seu marido e encontra-se sepultada na Piazzale Donatello, em Florença.
Entre a sua vasta e erudita obra destaca-se (para mim) Aurora Leigh, publicada em 1856, em que defende o direito das mulheres à liberdade intelectual.
O respeito pelos seus méritos literários foi tal que pensaram nomeá-la sussessora de William Wordsworth, como poeta laureado em 1850.
Notabilizou-se mundialmente com o seu livro "Sonnets from the Portuguese", cujos poemas de amor se dirigiam ao seu marido.
E depois das banalidades biográficas que todos conhecem, queria sublinhar, aqui, a sua subtil ironia na escolha do título deste livro.
Elizabeth Barrett, carinhosamente chamada "Ba" entre os familiares, estudou várias línguas e conhecia os enganos em que uma tradução pode cair.
O seu marido, Robert, deu-lhe outro diminutivo: "…his little portuguese", por causa das suas características físicas.
O livro, que sob anonimato publicou, foi quase sempre traduzido por "Sonetos dos Portugueses", "Sonetos Portugueses" e, em castelhano, "Los Sonetos del portugués".
A tradução correcta é, obviamente, a revelação da assinatura privada da sua autora: Sonetos da Portuguesa.
O que ela ainda hoje se riria pela mera inclusão de Camões num deles.
O que ela ainda hoje sorriria ao ver que tantos estrangeiros apaixonados se lembram, por trocadilho maroto, de Portugal.
Em memória dela, deixo-vos o tão conhecido soneto 43:

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.
I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints, -I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life! - and, if God choose,
I shall but love thee better after death.
Parabéns, Ba, e se daqui a cem anos eu não estiver cá para te celebrar e o teu túmulo, entretanto, ruir por falta de conservação, nada importa: outros te comemorarão, outros trarão dentro de si as palavras com que desconfiaram o que era paixão.
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